terça-feira, 16 de setembro de 2008

Personagens do Livro



Principais membros da família Romeu, em ordem cronológica:

Padre Tomé Romeu: Patriarca da família casa-se com Dona

Carolina torna-se Senador. Corresponde historicamente ao senador Thomaz Pompeu de Souza Brasil (1818 – 1877).

Dr. Tomé Romeu: Professor, filho do padre Tomé, casa-se com Dona Flora.

Dona Flora Romeu: A mais antiga das Floras.

Nívea: Filha de Dr. Tomé, mãe de Flora Morena.

Dr. Carlos: Médico renomado, marido de Nívea.

Branca: Tia de Flora. Morre quando sua sobrinha ainda era uma criança. Sua morte representa um choque e um momento de crescimento para a menina.

Flora Morena: Filha de Nívea e Carlos.

Flora Fernández: Protagonista, filha de Flora Morena.

Outros personagens:

Seu Jeromo: Homem humilde que recorria à ajuda de Dona Flora e do genro dela, Dr. Carlos, em caso de doença.

Senhora Maria Amélia: Empregada da família acompanhou a infância de Flora Morena e de Flora Fernández.

Cota: Empregada negra da família Romeu. A pequena Flora choca-se ao perceber que a sociedade a trata com racismo.

Filó: Empregada da família, também negra. Mulher muito engraçada divertia a pequena Flora pela sua dança e pela dentadura frouxa, que lhe dificultava a fala.

Miss Colbert: Mulher fina, inglesa, amiga da família. Media quase dois metros de altura.

Alaíde Vernon: Amiga da família, charadista. Após algum tempo namorando um homem por correspondência, decepciona-se ao descobrir que ele é bem mais velho do que as fotos mostravam. Mesmo assim casa-se com ele.

Professor Quadrado: Professor de matemática do colégio Liceu. Sentia um amor não correspondido e resignado por Micaela. Quando ele morreu, a moça guardou luto, como se fosse a viúva, e passou a adorar o defunto.

Seu Adalberto: Tinha mania de achar que lhe roubavam seus poemas quando ele dormia. Na verdade, os poemas eram de outros autores, e ele acreditava que eram seus.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Resumo do livro O Mundo de Flora.



O Mundo de Flora é composto por três Floras: Dona Flora, Flora Morena e Flora Fernández. Há também as Brancas e as Níveas. Portanto, Floras, Brancas e Níveas habitam este mundo. Todas com características bem distintas.

As Floras eram sempre sonhadoras, amantes da leitura e da escrita. “Impetuosas”, “voluntariosas”, “muito mandonas” e “aquarianas”.

As Brancas eram “religiosas” e solidárias, não eram egoístas. “Um tanto românticas” e “virginianas”.

As Níveas eram “tristes”, “contemplativas”, “mansas”, “resignadas” e “librianas”.

O Mundo de Flora fala de várias gerações da família Romeu, especialmente das mulheres dessa família. Havia o hábito de se repetirem os nomes de seus antepassados nos novos membros que nasciam. Quando menino, era comum batizar-se de Tomé, nome do patriarca. Se menina, alternavam-se os nomes Flora, Nívea e Branca.

Com capítulos curtos, cujos títulos estão nas margens das folhas, a historia é narrada em recortes da vida de personagens de gerações diferentes, de forma não linear.

A história da protagonista inicia-se com os primeiros anos de sua infância, no casarão da família, onde morava com os pais e os avós. O bisavô, Dr. Tomé, era uma figura amada e respeitável para a pequena menina de quatro anos de idade, embora ela não o tivesse conhecido, já que ele havia morrido quando a mãe da menina era ainda uma criança.

Depois a família muda-se para um sítio em Matosinhos, onde Flora tem contato com um ambiente mais verde, natural. Algum tempo depois, o pai aluga uma casa na cidade, e ela passa a estudar em um colégio de férias.

Flora é uma menina inteligente, esperta, que desde cedo aprende de forma muito particular as experiências de vida, no contato com outras crianças, com os adultos, com a natureza ou com as fatalidades da vida. A menina vivencia o impacto de episódios como a morte da tia Branca e de amigos da família, assim como a comoção pública do suicídio de Getúlio Vargas. Flora passa pela juventude, período em que descobre o amor e as paixões ideológicas. Sofre com a chegada da Ditadura Militar. Casa-se com Diego, com quem tem um filho, o qual morre ainda bebê, fato que a leva à depressão extrema e a deixa revoltada contra Deus. Após a morte do filho, começa o declínio da saúde da protagonista, que morre aos 33 anos.

Ao longo da narrativa, vários temas vão sendo discutidos, como o celibato (casamento de Padre Tomé com Carolina); o racismo, que a pequena Flora não consegue compreender ao ver a agressão das pessoas na rua contra sua ama Cota; o choque provocado pela descoberta da morte, a partir do falecimento de pessoas da família (tia Branca) ou conhecidos (o menino que morre afogado); o conservadorismo religioso e a educação pelo medo, com a idéia do pecado (Flora no colégio de freiras e na preparação para a 1ª comunhão); as frustrações ideológicas (tristeza de Flora pela renúncia de Jânio Quadros), etc.

Há também pequenas histórias, como a do Professor Quadrado, que aparentemente nada têm a ver com a família, mas que na verdade é uma coletânea de causos presenciados ou escutados quando criança e que fazem parte da formação da visão da protagonista.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Biografia de Angela Maria Rossas Mota de Gutiérrez.

Angela Maria Rossas Mota de Gutiérrez nasceu no casarão de seu bisavô, Tomás Pompeu, em Fortaleza e aqui sempre viveu. Seu avô, o médico Dr. César Rossas, e sua tia-avó, a Dra. Menininha Cavalcante, ajudaram-na a vir ao mundo. É filha de Luciano Cavalcante Mota e de Angela Laís Pompeu Rossas Mota. Seu pai, que, para sua imensa tristeza, faleceu há quatro anos, foi seu guia na literatura e nas artes. Sua mãe, na plena lucidez de seus 90 anos, conta estórias com muita graça.

Trabalha como professora na UFC, e lá comeceu a lecionar, ainda estudante, nas Casas de Cultura Italiana e Francesa. Depois de formada em Letras, com 21 anos, comeceu a ensinar, como professora de Literatura Brasileira, no Curso de Letras. Até hoje leciona no Departamento de Literatura. Foi coordenadora-fundadora do Programa de Pós-Graduação e Letras (Mestrado em Literatura) e, aí continua a exercer atividades de ensino, orientação de disssertação e pesquisa. Em 2003, foi Diretora-fundadora do Instituto de Cultura e Arte da UFC – ICA. Desde o ano passado , assumiu a Direção da Casa de José de Alencar e dedica-se a essa função com muito amor.

É casada desde muito jovem com o médico Oswaldo Gutiérrez, nefrologista e professor da Faculdade de Medicina da UFC, com quem vive em muito amor. Eles têm três filhos: Oswaldo Filho, médico, cirurgião-plástico, casado com Priscila, Daniel, advogado, casado com Sunny e Angela Laís, estudante de psicologia. Quatro netos dão muita graça a suas vidas: Oswaldo Neto e Isabela, filhos de Oswaldo Filho e Rafael e Lina, filhos de Daniel.

É membro da Academia Cearense de Letras (a mais antiga do Brasil, fundada por seu bisavô, Tomás Pompeu, em 1894) e da Associação Brasileira de Bibliófilos. É pesquisadora , especialmente sobre três temas: a literatura relacionada a Canudos (Os sertões e a ficção canudiana), a obra do escritor Mario Vargas Llosa e a obra de José de Alencar. Fez mestrado em Educação na UFC, e defendeu a dissertação O caráter reprodutor do ensino de Literatura Brasileira nos cursos de Letras; doutorou-se pela Letras na Universidade Federal de Minas Gerais, com a tese: Vargas Llosa e o romance possível da América Latina.

Obs: Material fornecido pela própria autora!

Entrevista do Jornal o Povo com Angela Gutiérrez sobre o livro "O Mundo de Flora".


O POVO - Em que período histórico se ambienta a narrativa presente em O mundo de Flora?
Ângela Gutiérrez - O período histórico em que se desenrola o romance abrange pouco mais de um século: dos anos setenta do século XIX , quando o trisavô de Flor, padre Tomé Romeu, conhece Carolina, aos anos oitenta do século XX, quando Flora vive seus 33 anos de idade. Nesse espaço de tempo, é narrada, através de Flor, de um narrador em 3ª pessoa e de outros contadores de estórias, a saga da família Romeu, integrada aos acontecimentos da cidade e do país.

OP - A narrativa do livro é marcada por retalhos. Mas esses retalhos ou pequenas narrativas iluminam-se uns aos outros. Não há uma clara progressão temporal. Como essa trama foi sendo urdida por você?
Ângela - No momento em que comecei a escrever O mundo de Flora, meu primeiro romance, não programei sua estrutura fragmentada. Era uma noite de insônia e, como estava doente, a idéia da morte me reavivou a memória da vida e me levantei para escrever. Na mesma noite, escrevi fragmentos narrativos que constituiriam o começo, parte do meio e o fim do livro. Além de deixar solta a memória, e lembrar, todo mundo sabe, é um caminhar que sai da estrada real e se emaranha em desvios e atalhos, acresci às artimanhas da memória aquelas da imaginação, permitindo-me criar o que Bandeira inscreveu em mármore literário: "a vida que poderia ter sido e que não foi"... Nesse redemoinho acronológico das lembranças vividas, ouvidas, lidas, imaginadas, os fragmentos surgiram. Se, em primeiro momento - o da escrita -, os fragmentos nasceram absolutamente libertos, em um outro momento - o da feitura literária -, foram costurados em um tecido narrativo que, apesar da aparência terremótica inicial, expressão usada por Moreira Campos, submetem-se a lógicas de leitura. Durante a escrita do livro, usei símbolos - estrela, triângulo, quadrado, infinito e outros - para identificar os textos narrados em primeira pessoa pela Flora, os da memória familiar e histórica, em terceira pessoa, os diálogos dramáticos, os causos contados por outras personagens, os cartões, as cartas, os jogos de palavras, as canções, os poemas, enfim, os vários materiais narrativos. Para facilitar meu trabalho de costura, fui mais precisa, dei nomes aos retalhos, e coloquei-os à margem dos fragmentos narrativos e conservei-os na edição do livro porque me pareceram instigantes para o leitor. Sempre desejo acreditar que os leitores concordarão com Sânzio de Azevedo, quando disse sobre meu romance de estréia: "a complexidade da estrutura não prejudica o fluir da narração".

OP - Nuns momentos, podem-se imaginar colagens ou mosaicos. A opção por uma estrutura semelhante à dos diários foi proposital?
Ângela - Muitos estudiosos do romance O mundo de Flora ressaltam sua construção em mosaico, as colagens, o caleidoscópio. Agradam-me essas metáforas para significar a estrutura do livro, pois não só aprecio a relação da literatura com outras artes, como, sou apaixonada por artes plásticas. Ao invés de descrever detalhadamente o longo rio da memória de uma família - o que não é uma opção desprezível, ao contrário, o gênero roman-fleuve produziu excelentes obras -, construí flashes de memória que sugerem ao leitor a possibilidade de reconstrução da trama. A técnica do diário, também fragmentária, e que permite ou exige uma atitude criativa do leitor na reconstituição da trama, foi usada com parcimônia nesse romance. Mais como exemplo da incapacidade de Flora em dar prosseguimento ao trabalho da escritura. Em meu romance mais recente, Luzes de Paris e o fogo de Canudos, fiz uso mais intenso da técnica de diário e de cartas, entremeada com ilustrações, fotografias, cartões e outros materiais narrativos que já aparecem, de forma menos abundante, em O mundo de Flora.

OP - No livro, há um vasto panorama dos costumes na Capital. Nele, descobre-se a Fortaleza que não valoriza a sua memória (ver trecho da demolição da Igreja da Sé). Adiante, lê-se sobre as dificuldades que os negros livres tiveram para se integrar à sociedade "branca". O próprio convívio doméstico na casa de Flora é prenhe de indicações da desigualdade social que sempre marcou o Brasil. Em algum momento, você teve a pretensão de construir um painel da sociedade cearense do início do século passado?
Ângela - Pouco a pouco, ao contar a história de Flor, de outras Floras, da família Romeu, desenha-se, no romance, a história de Fortaleza, não sei se como um amplo painel, mas, talvez, como pequenos cromos que, juntos, compõem um álbum, como aqueles que as demoiselles de antigamente se deleitavam em criar. Muitos críticos têm visto, sim, n' O mundo de Flora, a composição de um painel da Cidade Amada; outros nele enxergam um caleidoscópio que mostra variadas faces de Fortaleza. Com certeza, meu entranhado amor por minha cidade natal transparece nas páginas do romance, seja através da reconstituição de traços de sua memória e da pintura de seus encantos, seja através da perplexidade diante dos maus-tratos que ela e seus habitantes sofrem: desrespeito a seu patrimônio, preconceitos, desigualdade social...

OP - Você poderia apresentar brevemente alguns dos personagens do livro?
Ângela - Os leitores, às vezes, ficam intrigados pelo fato de existirem três Floras na trama do romance. Mas, logo, no desenrolar da ação, percebem que a protagonista é a última das Floras - a que escreve em 1ª pessoa, a que lembra, a que é chamada de Flor, Flô, Florzinha, Flôzinha. Esta Flora revive o passado de sua família e sua própria vida. Com 33 anos, doente, angustia-se com a perda do filho, a proximidade da própria morte e a incapacidade de criar literariamente; tenta unir os laços da vida, através da recordação e da escrita. Sua mãe, Flora Morena, é a guardiã da memória familiar; seu pai é seu guia na biblioteca da vida. Sua bisavó, Dona Florinha, inicia o ciclo das Floras: aquarianas, voluntariosas, generosas e leitoras sensíveis. O ciclo dos Tomés inicia-se com o padre e depois Senador do Império, e tem seu auge com seu filho, bisavô de Flor, que nunca o conhecera, mas o amava como a um deus. As Níveas são a avó e a tia de Flor. Meigas. As Brancas são a tia-avó e a irmã de Flor. A tia Branca era a heroína favorita de Flor e se transforma, em Luzes de Paris e o fogo de Canudos, em protagonista desse romance.

OP - Quanto da própria vida de Angela Gutiérrez há em O mundo de Flora? Precisamente: de onde veio o material para a construção desse livro?
Ângela - À época da publicação da primeira edição do romance, em 1990, muitos jornalistas e leitores me perguntavam se O mundo de Flora era o mundo de Angela. A impressão de semelhança entre os dois mundos não se desvaneceu com o tempo. Desde o ano passado, com a 2ª edição do livro, na Coleção Vestibular da UFC, a pergunta tem retornado, como agora... Digo que o mundo de Flora não é o mundo de Angela, mas que muito do mundo de Angela foi emprestado ao mundo de Flora: memórias de família; alguns traços e vivências da protagonista, em especial, amor pela literatura incentivado pelo pai e pelas estórias contadas pela mãe, insônia, perda do primeiro filho, casas de moradia, livros lidos, entre outros. A esse patrimônio de memória e experiência, porém, foi adicionado o fermento da imaginação e tudo recriado pelo fogo da palavra, que mostra e esconde, sugere e nega o vivido, e, enfim, gera um novo mundo. Relacionando minha vida à de Flora, pode-se perceber que alguns traços de meus trisavós Senador Pompeu e Felismina, de meus bisavós Tomás e Angela Pompeu, de meus avós César e Lais Rossas e Thuríbio e Bela Mota, de minha tia-avó Alba Pompeu, de minha tia Maria Rossas Freire, de meus pais Luciano Cavalcante Mota e Angela Laís Pompeu Rossas Mota estão presentes, respectivamente, nos trisavós, avós, tios, pais de Flora. De nenhum modo, porém, O mundo de Flora se enquadra como biografia ou memórias. É uma obra ficcional. Assim, Tomás Pompeu não é Tomé Romeu, nem Angela Gutiérrez é Flora Fernández. As personagens da vida real de Angela são apenas pontos de partida para a criação das personagens do mundo ficcional de Flora.